Amostragem
Recebi um e-mail esses dias do Julio que é microempresário e tem algumas dúvidas sobre uma pesquisa de mercado que pretende realizar. Alguns fatos no artigo anterior deixaram nosso amigo com "a pulga atrás da orelha"! rsss
Agradeço a ele os comentários e respondi com algumas observações e conselhos. Tentarei aqui resumir....
Vou me aventurar a não ser muito técnico, mas não poderia totalmente deixar de citar a estatística.
Vamos por partes.
Qualquer pesquisa necessita ser aplicada a um determinado número de pessoas para que se possa responder com exatidão a uma pergunta para a qual não tenhamos resposta ou, pior, tenhamos várias dúvidas.
Para isso, as pessoas que responderão a esta pesquisa precisam, obviamente, representar a totalidade do universo. Usamos várias técnicas de amostragem para isso.
Amostragem - é, pois, uma representação em miniatura do todo (universo).
Vale o clássico exemplo da sopa da vovó - que delícia e que saudades! rssss
Para saber se a sopa está bem temperada e ou se falta sal, a vovó tira uma colherada e prova. Se ela tivesse que tomar a sopa toda pra chegar a conclusão - se está ou não bem temperada - com certeza, o gostinho daquela sopa quentinha nunca estaria nas nossas memórias! rsss
A colherada que ela provou - e pelo fato da sopa estar bem misturada no caldeirão - é um "retrato" exato de um todo. Se tiver salgada na colher - com certeza o caldeirão todo também estará. E, claro, vice-versa. Assim, ela poderá corrigir o sabor.
Vamos supor que eu esteja fabricando uma sopa industrial - daquelas que vêm em saquinhos.
Minha dúvida é saber se meu técnico e/ou nutricionista equilibrou bem a quantidade de sal - isso é muito importante para que as vendas desta minha sopa tenham sucesso no mercado, agradando a maioria dos paladares. Sim, é dífícil, por que unanimidade quase não existe em se tratando de marketing. Sempre tem gente que procura algo mais, uma "coisinha" diferente.
Se eu fizer uma pesquisa para que possa obter respostas e orientação, vou ter que - primeiro - entrevistar quem compra e toma sopa. Se os entrevistados não se enquadrarem nesta premissa, minha amostra não vai ser representativa do universo de "tomadores de sopa".
Pra complicar, as pessoas que tomam sopa têm os mais diferenciados perfis: mulheres, homens, crianças, mais novos, mais velhos, de maior poder aquisitivo, mais humildes, querem uma comidinha rápida, fazem regime..... Etc. e tal. Mas, não vamos complicar, teremos em outras postagens oportunidade de voltar sempre ao assunto....
Vamos supor que apliquei 1.000 questionários e fiz essas pessoas provarem a sopa. Perguntei: "Como está o sabor ou o tempero de sal?" Qual a pior coisa que pode acontecer????
500 responderem está "sem sal". E, os outros 500 responderem está "salgado"! Porquê???
Você diminuiria a quantidade de sal na sua sopa ou aumentaria? Se aumentar vai desagradar mais ainda aqueles 50% que acharam salgada. Se diminuir vai se afastar mais ainda daqueles que a acharam sem sal... De qualquer maneira você perderá 50% do seu potencial total de vendas.
Se o resultado tivesse sido bem diferente - vamos supor somente 10% acharam "sem sal" e 90% dissessem "salgada" - seria mais confortável pra você diminuir a quantidade de sal na sopa. O pior que poderia acontecer, neste caso, seria perder somente 10% dos potenciais compradores.
Para simplificar o que com mais detalhes expliquei por e-mail ao Júlio: vamos supor que o erro desejado por você em % seja 2% (coeficiente de confiança de 95,5% - 2 sigma)
- gente sinceras desculpas - mas, se eu entrar em detalhes pra explicar tudo aqui vou ter de usar 20 páginas!! - (vários sites da Internet podem ser pesquisados para saber um pouquinho mais sobre isso) - assim que tiver um tempinho voltarei a abordar a Curva Normal e outras coisitas.... Desde que haja paciência: minha e de vocês! rsss
resumindo: os resultados podem ser 2: "sem sal" ou "salgada".
Se o resultado para "salgada" fosse 90% - com a margem de erro de 2% - e tendo aplicado 1.000 questionários, estou na minha margem de erro de 2%.
Se o resultado para "salgada" fosse somente 1% - mesmo que minha amostra tivesse sido de apenas 100 questionários / respondentes ainda estaria na minha margem de erro desejada - ou seja, teria investido menos dinheiro na pesquisa e o tempo de execução teria sido substancialmente mais curto.
Continuando com esse exemplo: se eu tivesse aplicado, por economia ou restrição de tempo somente 100 questionários e tivesse obtido: 50% "salgada" e 50% "sem sal"????
Eu estaria com uma margem de erro bem distante da desejada: 10%! Ou me conformo e assumo alguns riscos - o que não faz sentido - ou parto pra uma nova pesquisa - levando em consideração estes resultados - e objetivando um erro menor ou eliminar vieses.
Muito bem. Quer dizer, muito bem, não! Sei que isso pode parecer aramaico pra alguns! rsss
Lembro que quando me iniciei - há muitos anos!! rsss - por esses meandros, meu cérebro quase derreteu - virando a própria sopa! rsss
Levando em conta, porém, alguns aspectos particulares das necessidades do Júlio - que aqui não posso abrir por se tratar de um detalhe específico do negócio dele - e agradeço a confiança! - dei a ele um conselho.
Em se tratando de um produto de consumo industrial - esqueça as estatísticas acima abordadas e opte por uma amostra intencional. Sim, isso mesmo.
Como ele está de uma certa maneira segmentado - voltado para uma determinada faixa de consumo - faça o seguinte:
Elabore uma lista com os principais consumidores do seu produto. Mesmo sem muitos dados nas mãos, faça um ranking - deixando aqueles que sabidamente são os principais compradores em primeiro lugar.
Leve em conta o dead-line - ou seja, para quando você precisa dos resultados - e entreviste em profundidade os principais consumidores.
Exemplo: se eu estivesse falando de "tinta automotiva" e conseguisse entrevistar qualitativamente a VW, Fiat e GM - com 3 entrevistas eu mataria qualquer charada!!!! Percebeu?....
Muitas vezes se encontram técnicas disponíveis que se enquadram melhor no objetivo - dependendo de uma análise do cenário como um todo. Infelizmente, poderia citar muitos exemplos, mas não temos mais espaço aqui. E mesmo porque não existe uma "receitinha de bolo" ou de "sopa" que valha para todos os casos.
A experiência do Consultor de Marketing / Pesquisador é fundamental para esse aconselhamento.
Somente aquele que vivenciou vários casos e exemplos através dos anos - tendo, conseqüentemente, vivido boas e más experiências se debatendo com o inusitado ou o inesperado - pode ter uma "terceira" visão. Por isso aconselho: se não puder ou não querer consultar um especialista da área, mesmo que for com um amigo de confiança: troque idéias e impressões.
Nada pior do que o "feeling" próprio ou achar que se está fazendo a coisa certa - levando em conta somente sua experiência ou visão do negócio.
Acredite: já vi casos em que o porteiro da empresa teve a melhor resposta pra resolver uma questão. Enquanto toda a diretoria se debatia com teorias....
E, ademais, o óbvio pode estar bem debaixo do nariz! Não enxergamos porque somente procuramos muito longe.
É isso.
Grande abraço a todos. Muito sucesso ao Júlio. E Feliz Natal!!
Hô, hô, Hô.... rsss
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